segunda-feira, 11 de março de 2013

A intimidade do Poder de sete governadores

Foi com o título “Na intimidade do Poder” que o jornalista Abelardo Jurema Filho retratou, em seu livro “Paraíba Feminina”, a figura marcante de Lourdinha Amorim (Maria de Lourdes Régis Amorim), que durante 16 anos comandou o Cerimonial do Palácio da Redenção, sede do Executivo paraibano, de lá saindo para a Assembléia Legislativa por perseguição sofrida no governo Burity. Natural de João Pessoa, filha de família tradicional e aluna do tradicional Colégio das Lourdinas, ela foi impecável no papel de relações públicas, convivendo com pelo menos sete governadores e atuando com a discrição e a fidelidade exigidas pelo difícil cargo. Lourdinha dizia-se “casada com o trabalho” e sua imagem tornou-se emblemática no organograma do Poder estadual.
Ela ingressou no serviço público pelas mãos do ex-governador Ernani Sátyro, que classificava como político austero e autêntico. Convidada para assessora de gabinete, com a missão de receber autoridades e providenciar recepções oficiais, Lourdinha criava, instintivamente, o que acabou se concretizando como Serviço de Cerimonial do governo. Pelo seu depoimento a Abelardo, Ernani queria uma figura feminina para anfitrionar personalidades influentes em visita à Paraíba. Posteriormente, o governador Ivan Bichara Sobreira criou o cargo de assessora-chefe de Relações Públicas e disciplinou o setor. Seguiram-se os governadores Dorgival Terceiro Neto, Tarcísio Burity e, finalmente, Clóvis Bezerra, a quem coube sancionar a lei que criou efetivamente o Cerimonial do Palácio. A convivência com sete governadores fez com que ela observasse atentamente os estilos de cada um, bem diferentes, como pontuou no depoimento a Abelardo Jurema Filho.
O mais indisciplinado
Na sua opinião, o mais irreverente e rebelde era Dorgival Terceiro Neto, que esbravejava contra as exigências do Cerimonial e não gostava de formalismo, embora, no final das contas, obedecesse a regras do protocolo. Sobre Ivan Bichara e Clóvis Bezerra, Lourdinha enfatizou o temperamento mais afável, sublinhando o tratamento gentil com todos os servidores do Palácio. O título de “mais indisciplinado”, na sua versão, ficaria com o ex-governador Wilson Leite Braga, atual deputado estadual, que não gostava de cumprir horários, não obedecia à agenda e sempre agia de acordo com sua intuição. Mas isso não queria dizer que não fosse um homem simples e de fácil relacionamento. No mesmo livro de Abelardo, consta um depoimento de Mirtes Sobreira, esposa do ex-governador Ivan Bichara Sobreira e sobrinha do ex-ministro José Américo de Almeida, que era uma espécie de “consultor” dos governantes e tinha influência na escolha de alguns dos ocupantes do Palácio da Redenção no regime militar.

Ivan Bichara despachando sob os olhares do ex-governadores
Tarcísio Buritu, Wilson Braga e Antonio Mariz.
Dona Mirtes declarou a Abelardo que não queria que Ivan fosse governador e lembrou que a passagem pelo poder não alterou o patrimônio da família, apesar da maledicência de alguns opositores que chegaram a redigir carta anônima tentando denegrir a imagem de Ivan Bichara. O episódio a que ela se referiu ocorreu ao final do mandato do ex-governador, que já ensaiava a candidatura ao Senado. O documento apócrifo foi encaminhado a deputados e chegou a ser publicado na imprensa, com denúncias de nepotismo e supostos abusos de poder na administração. “Foi uma tentativa vil e mesquinha de macular a integridade de Ivan, que, no entanto, saiu ileso desse episódio e cumpriu seu mandato com altivez e dignidade”, relatou Mirtes, nascida em Guarabira. Sobre seu papel como primeira-dama, ela narrou que assumiu-o sem ter muito jeito, mas procurou cumpri-lo dedicando-se de corpo e alma aos mais humildes e engajando-se em obras assistenciais do falecido Padre Hildon Bandeira, em Brasília de Palha. A ex-primeira-dama negava interferências nas decisões políticas tomadas por Ivan, embora admitisse como natural trocar idéias a respeito de determinados assuntos. O que a deixou decepcionada foi a traição sofrida por Ivan quando se candidatou ao Senado em 78, perdendo a vaga para Humberto Lucena. Uma frase emblemática dita por ela a Abelardo: “Na política, quando se é honesto, com o que se ganha não dá para sair rico”. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário